
Ela confessa a soberba e a autoconfiança que sentia ao frequentar a Igreja como uma “católica genérica”. Foto: Divulgação
Em 1995, um casal e o sobrinho caminhavam na Universidade de Bogotá,
em direção ao Departamento de Odontologia, onde faziam especializações.
Com uma imagem de Cristo feita de cristal de quartzo pendurada no peito,
o jovem de 23 anos acompanhava, sobretudo, a tia, uma dentista em
atividade. De uma hora para outra, uma forte tempestade cercou o trio.
Com o passo acelerado, eles superavam uma poça d’água no instante em que
um raio caiu. Só o marido foi salvo da explosão imediata. Com o coração
queimado, após a descarga entrar por suas costas, o sobrinho teve morte
instantânea. Estirada a seu lado, Glória Polo tinha o ventre, pernas,
costelas e seios destroçados. A perícia diria depois que a energia foi
atraída pelo cobre contido no Dispositivo Intrauterino (DIU) que usava
como método contraceptivo. Mas o mais surpreendente foi a versão que a
mulher contou do episódio, ao anunciar um milagre.
Ela diz ter conversado com Deus e com familiares vivos e mortos,
antes do espírito retornar ao corpo com uma missão: corrigir falhas no
próprio caráter e levar sua história de fé e superação ao maior número
de pessoas possível.
Quase duas décadas depois, a colombiana pisou no altar da Catedral
Metropolitana de Natal, na manhã deste sábado (02) para dar seu
testemunho a fiéis, que compareceram em bom número. Com tradução
simultânea, a palestra é baseada no livro Da Ilusão à Verdade, conjunto
de palavras que destaca o episódio transcendental. Acompanhada do padre
Rodrigo Maria, de São Paulo, Glória fará um périplo por cidades
nordestinas – além da capital potiguar, o roteiro inclui Recife e
Fortaleza. “O que a Glória diz serve, principalmente, para quem acha que
é um grande católico, mas vive no comodismo, no pecado”, diz o pároco
que trocou a maior metrópole da América do Sul por Ciudad Del Este, no
Paraguai, nos últimos 15 meses. Oriunda de um país semelhante ao Brasil
quanto à colonização e a situação da segurança pública, a dentista falou
por 180 minutos sobre paz, amor e a redenção encontrada no
“formosíssimo túnel branco de luz” que a encaminhou a Jesus.

Glória Polo teve morte clínica anunciada após ter sofrida descarga elétrica de raio. Foto: Wellington Rocha
Ainda na administração da Catedral, Glória conversou com a
reportagem. Ela confessa a soberba e a autoconfiança que sentia ao
frequentar a Igreja como uma “católica genérica”, mais preocupada em
realizar sonhos financeiros que sustentar uma existência virtuosa. Aos
16 anos perdeu a virgindade e engravidou. O aborto foi a solução para
extirpar uma criança indesejada. “Terminei como uma besta, destruindo um
inocente que estava em meu ventre”. Em uma breve explanação, dados
acerca da interrupção da gravidez são mencionados para justificar o
arrependimento. “A mulher não nasceu para ser criminosa. 95% dos abortos
decorrem de relações em que o homem usou preservativo”. No livro, vai
além: “Cada vez que o sangue de um bebê se derrama é um holocausto a
satanás e ele fica com mais e mais poder [...] quando aconteceu, vi que
minha mãe tinha razão quando dizia que uma menina que perde a virgindade
apaga-se [...] não sei porque é que dizem que o sexo é bom!”)”.
Daí em diante, a vaidade com o corpo (passava a tarde interia na
academia), o distanciamento dos pais e o vazio juvenil ditaram seu
cotidiano. No agora longínquo 1995, Glória, já casada, alega ter visto
demônios que se jogavam no chão ao ver o Senhor passar, ter ido até o
Purgatório e ver suicidas (“Todas aquelas pessoas que se suicidam saem
da Ordem Divina”), abraçar o pai falecido cinco anos antes e o
principal: ter conversado com Jesus sobre infidelidade, roubos, amor e
bullying (ela gostava de menosprezar amigos gordos, feios e diferentes
na escola). Útil e reconfortante para a maioria dos seres humanos, a
religião era deixada de lado. O abandono de uma das formas mais intensas
de manter a harmonia para quem vive em uma comunidade, lidar com
fracassos pessoais e profissionais, entretanto, teria um preço – pago
somente com o raio que transformaria sua vida.
“Buenos dias, hermanos!”. Com cinquenta minutos de atraso, Glória
olhou de frente para os devotos. Cansada (desceu no aeroporto Augusto
Severo às 03h30), mas empolgada com mais uma passagem pelo Brasil,
perfaz as mudanças ocorridas desde aquele dia fatídico – a equipe médica
chegou a anunciar a morte clínica. Ciente da sacralidade que vem dos
céus, onde só os privilegiados têm vez, pois para o homem religioso o
sobrenatural é indissociável do natural, a fato de ser carbonizada
dispensa lamentos e ganha ares de presente divino, como se o respeito
por fenômenos naturais fosse uma extensão dos castigos tão temidos. “Fui
investigada por uma comissão de cientistas em meu país, por médiuns, e
todos chegaram a conclusão de que foi um milagre”, diria com
exclusividade a O Jornal de Hoje. Sentado ao lado do altar, padre
Rodrigo Maria ressalta o uso que Jesus faz da natureza para emitir
mensagens em tempos de descrença generalizada.
“O que Deus quer é despertar o povo para a Verdade do Evangelho. Os
meios ordinários tem sido falhos. Por isso, de quando em quando, ela dá
sinais estrondosos, como raios, luz, trovões, terremotos, maremotos,
para fazer barulho a fim de chamar a atenção para a falta de fé. Temos
que entender que a vida é curta, rápida como um raio. Devemos aproveitar
o tempo em toda sua plenitude para alcançarmos a Salvação. Glória foi
condenada naquele momento. Ela pecava muito. Mas sua Salvação veio no
momento em que aceitou os Mandamentos e resolveu fugir do Inferno”, diz
padre Rodrigo. Ao partir no voo em direção à capital cearense, na tarde
deste sábado (02), Glória Polo terá a certeza de que plantou sementes no
solo potiguar. Uma das ‘flores’ germinadas foi Íris Marroque, técnica
de enfermagem que já tinha presenciado o testemunho em João Pessoa,
durante um retiro espiritual. “Todo cristão deveria ver essa palestra.
Ela me fez repensar minha vida todinha, em como tudo que fazemos é
impensado, sem muita lógica, se não seguirmos os preceitos bíblicos”.
Fonte: Portal JH
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