segunda-feira, 18 de março de 2013

Estou pensando nas travas do tempo. Na magrenha da silhueta de osso descarnado. Também no passo elegante da gazela na planície, do trigo sob a forma de pão na mesa dos desafortunados.
No sorriso da anciã que recebe seu filho de há muito ausente. A vida é essa dicotomia; de um lado a resina unguenta da solidariedade, do outro a indeferença dos que fazem da vida a estrada do além, aliás dizem ser esta:

Um sopro sem som, o instante sem instante,
Momento que se destrói pouco a pouco,
Um grito sem eco, que me deixa rouco,
Um encacerado que teme perder sua amante.

Aposto no vale das oliveiras, das tâmaras em maturação,
no viço do castanhal, nas plumas da rosa-seda,
No arlequim bem cuidado, no solfejo em tarde de canção,
Na chuva torrencial, no zelo pela vida da madeira.

No sonho que é verdade, do que amar de mentira,
No adeus do até breve, quando gera uma canção,
Na saudade encantadora, quando no amor gira,
Combatendo o esquecimento, estragando a solidão.

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