segunda-feira, 22 de abril de 2013

DEUS!... AS CHUVAS DE OUTONO NO MEU SERTÃO?

Jair Eloi de Souza*

No hemisfério norte, o outono tem início no 22 ou 23 de setembro, finda na penúltima lua dezembrina, nominam lá, de "outono boreal". No hemisfério sul, nas terras equatoriais, dá-se o nome de outono austral, permeia entre 20 de março 20 de junho, quando recepciona o inverno. Noites mais longas e temperaturas mais brandas. Geralmente as folhagens maturam, e assumem um cênico de amarelo desbotado. Também serve para os amantes soluçarem a perda de quem a tanto depositaram suas juras em cupido caliente, pois, não viveram um "verão do lobo vermelho", os queixumes e quimeras foram partilhados intensamente.
As chuvas não fizeram as águas de março correrem nos duros no meu Sertão. A magrenha e estreiteza do tempos, tinham ressonância no desespero do homem, para salvar seus teréns e haveres: a semente de gado, as cabras leiteiras, as últimas ovelhas do rebanho, que passara tantos anos para constituí-los. Isso em sí, não era só o que imaginava o sertanejo do meu Seridó. Na agudez de seus pensamentos, quando o crepúsculo se transformava na negritude do além e as trevas calavam o canto compassado e lastimoso da mãe-da-lua, havia a sinistra ideia de ficar só com as amarras e chocalhos dos seus bichinhos de estimação.
O rancho das estrelas, era aquela limpidez que reluzia um quadro de solidão e desespero. Parecia que o silêncio de Deus, era obra de uma demência precoce, extemporânea, sentença decretativa para que o homem embora rude, pobre, penitente, ajustasse as contas como se fosse o juízo final. Imaginava-se ser mesmo eras de provação. Morria o aboio reboado, A toada na condução do gado emudecera. O relincho do cavalo que tantas vezes ajudara no traquejo diário, era uma visão imaginária, que só a estação do livre penar absolveria tamanha tragédia.
Os cientistas do cosmo, dos biomas terrestres, anunciam as finas veias em cacimba, não há chuvas. A acauã reclusa e em silêncio pétreo, as seriemas dessalivadas de tanto ecoar em fila indiana, também em reproche à tamanha amargura em fome e sede, eu as ouvi em estação de banzo no maracujá da velha Altamira Araújo. Dias de tormento, daqueles que o sertanejo diz: Valhei-me nosso Senhor, Divina providência, é seu último suspiro.
Mas, o templário dos homens da ciência, pelo menos nos sertões do Seridó, foi contraditado pelos nimbos-cúmulos de Deus, Divina providência. O ribombar dos trovões como trombetas em sonoridade alarmante, anunciaram e trouxeram as chuvas milagrosas, juntaram aguadas, baita refrigério para aliviar esse inferno de Dante Alighieri, nesse mundaréu nordestino. Estou feliz, o outono está sendo generoso, ao ponto de nesta manha de domingo, poder ouvir os arrulhos de um juriti que resolvera entrar em cio e chamava seu companheiro para a tenda do cupido, bem ali no Braz do saudoso Chico de Quinca.
A lua nesta hora, em crescente navega no firmamento, com adereço de nuvens estáticas, isso é um bom sinal.
Professor de Direito e Secretário Municipal do Meio Ambiente - J. de Piranhas.

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