terça-feira, 30 de abril de 2013

A SECA DE 1887 E SUAS LENDAS




Narra-se que a maior seca de nossa história foi a de 1877, quando quase todas as pessoas abandonaram suas casas e foram para os cariris, fugindo para aqui não morrerem de fome.
Porém, duas negras que moravam ao lado da capela de Nossa Senhora dos Aflitos não acompanharam os demais; preferiram elas morrer de fome a abandonar a capela. Chamavam-se Susana e Tereza.
Todas as pessoas em retirada que passavam defronte da casa delas insistiam
para que não fizessem aquilo. Em vão, tentavam convencê-las a também abandonarem o povoado e escaparem da seca. Rejeitando todos os convites, diziam aos que partiam preferir morrer de fome a abandonar Nossa Senhora dos Aflitos.
Os retirantes, comovidos, deixavam com elas o que podiam: um pouco de farinha, de rapadura, e seguiam viagem.
O rio Piranhas apartou de tudo, restando apenas uma pequena cacimba de onde elas tiravam água para beber. Para aplacar a fome, fizeram de tudo: papa d’água e sal de raiz de mufumbo, de pereiro ou de outra qualquer que pudessem arrancar.
Um dia, nada mais encontrando para comer, saíram pelos matos à procura de algo para amenizar a fome. Encontraram um couro velho de cadeira, que foi colocado de molho durante todo o dia. À tarde, colocaram-no numa vasilha com água para ferver; depois assaram, pilaram e o comeram com a pouca farinha que ainda restava.
Viram-se obrigadas à semelhante privação pois, de outra forma, a fome logo as derrotaria. Quando nada mais havia para comer, ficaram ao redor da capela, rogando a proteção de Nossa Senhora dos Aflitos.
Aconteceu que Tereza, ao passar em frente à porta principal da capela, ouviu de seu interior uma voz dizendo: “Tereza, vá atrás da capela e fuce (cave) a terra”.
Ela, pensando ser Susana quem lhe falava, dirigiu-se à irmã para saber o que ela queria. Como Susana negava tê-la chamado, ambas compreenderam ser a voz de Deus ajudando-as a escapar da forme, e a ela obedeceram.
Foram até os fundos da capela e começaram a cavar. À medida que iam cavando, encontraram uma espécie de batata, semelhante à de pega-pinto.
Com ela aplacaram a fome, pois sua massa seca dava origem a uma farinha grossa, com a qual era possível fazer uma papa e uma espécie de beiju. Com o término da estiagem e o consequente retorno dos retirantes, estes, com surpresa, encontraram as duas negras sãs e salvas, cuja casa ficou repleta de alimentos e de tudo o mais que eles traziam.
Elas contaram todo o sofrimento por que passaram e, principalmente, a história da voz ouvida de dentro da capela, com a certeza de ter sido uma benção de Deus e de Nossa Senhoria dos Aflitos, ajudando-as a resistir até o fim. Tereza morreu em 1890 e Susana, em 1898.
Fonte: Jardim Ontem e Hoje

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