sábado, 3 de agosto de 2013

Lampião: o lobo cinzento

NOTA DO AUTOR: A publicação abaixo, na forma de cordel, trata da saga cangaceira, com enfoque para suas origens, em sede de relato sobre Senhor Pereira, tido como cangaceiro manso, o único homem que liderou Lampiâo, no período de l918 a 1922. Por necessário informar também, que a Obra: LAMPIÃO: O LOBO DO CINZENTO*, de autoria desse velho escriba, sob a forma de ensaio sociológico romanceado, está chegando ao seu final, e será lançada, antes que as eras se vençam. Por enquanto, lanço para o público, a primeira série de versos, para os que curtem os cafundós do meu Sertão. Jair Eloi de Souza*

LAMPIÃO: O LOBO DO CINZENTO*

Jair Eloi de Souza*
I -
Num cenário da caatinga, o Sertão enfureceu,
Teve início em Pernambuco, no Pajeú e Navio,
violência e tirania, um mundo sem lei nem rei,
Foi uma luta fratricida, ninguém popou o pavio.

II -
Na Vila de São Francisco, nasceu Senhor Pereira,
De linhagem nobre, rica, presteza e boa conduta,
Mas, a infâmia e o destino, que a vida lhe teceu,
A honra de homem manso, foi o motivo pra luta.

III -
Após a seca de quinze, veio a crueza dos tempos,
O Sertão abandonado, fome, saque, e desmatelo,
Matam Né da carnaúba, perdem a frieza os ventos,
Carvalho contra Pereira, a ninguém mais há bedelho.

IV -
Senhor Pereira, o escolhido, pela família enlutada,
Logo no terreiro de casa, conversa com Virgulino,
Corre chão vai a Barros, arregimenta cabroada,
No coice da burrarada, também conta com Livino.
V -
Na vertente dessa saga, do cangaço e do punhal,
deixei de citar Antônio, o mais velho dos Ferreira,
dizem ser o mais violento, nesse cenário mortal,
Contudo a besta fera, de longe é Senhor Pereira.

VI -
Em uma noite de samba, quando bateu a lezeira,
Lua nova, noite escura, dorme Né da Carnaúba,
Aproveitando a madorna, Age o negro Palmeira,
Mata Né, tio de Senhor, por traição feito Judas.

VII -
Era um negro alagoano, perverso e sanguinário,
Escafedeu-se na noite, para às terras do além,
esquecendo da justiça, porquanto retardatária,
foi morar no Juazeiro, terra onde se fala amém.

VIII -
Botou morada, comércio, vizinho a um pobre cigano,
Não demorou muito tempo, a mostrar sua maldade,
perseguindo o pobre velho, a sua morada tomando,
Mas, a justiça divina não falha, faz o bem e caridade.
IX -
Azucrinado da vida, sem parente, nem seu bando,
Aquele pobre cigado, firma visita, ao velho Pajeú,
À Vila de São Francisco, Pereiras e seu comando,
Palmeira, disse sem cuido, matara Né Carnaúba.

X -
Bem cedo chega na Vila, de cabaço e matolão,
Entra na primeira venda, e indaga do seu dono,
Quem era, qual a família, precisava arranchação,
ouvindo:Pereira a raça, e Senhor é meu patrono.

XI
Pergunto a V. mcê, se o assuntar lhe interessa,
Não precisa se ofender, conhece o negro Palmeira?
longa viagem eu fiz, pra resposta não há pressa,
Trato de assunto sério, não vim cuidar de asneiras.

XII -
Sou Sobrinho do velho Né, primo de Senhor Pereira,
Ganjão pode me dispor, do tempo de um olho piscar?
Disse o dono da venda velha, sem perder a estribeira,
Viaje, na volta, apei-se aquí, temos assunto a tratar.

Cinzento*: "No Nordeste brasileiro, a palavra cinzento, quer dizer sertão".

Nenhum comentário:

Postar um comentário