Um negócio milionário no interior de SP, suspeito de funcionar como
pirâmide financeira, acabou em prejuízos para investidores como
jogadores de futebol e medalhistas olímpicos da natação.
No grupo estão os nadadores Thiago Pereira, Fabíola Molina e Cesar
Cielo. Juntos, investiram cerca de R$ 2 milhões, sob a promessa de lucro
alto e rápido.
A suposta pirâmide, agora investigada, começou em 2011 quando duas empresas de logística precisaram de dinheiro para expandir.
Contratadas por grandes indústrias para exportar ou importar produtos,
elas conseguiam lucrar com a seguinte estratégia: quitavam
antecipadamente o frete de determinada mercadoria para, depois, receber o
pagamento das indústrias, com lucro.
Por exemplo: para enviar produtos à China, essas duas empresas pagavam
ao embarcador cerca de R$ 150 mil. Depois que a mercadoria chegava ao
destino, recebiam pelo serviço cerca de R$ 170 mil das indústrias, em
parcelas.
Eduardo Kanpp/Folhapress | ||
O recordista mundial de natação Cesar Cielo, que perdeu dinheiro com suposto golpe |
Conforme o negócio crescia e mais indústrias contratavam os serviços,
aumentou também a necessidade de dinheiro em caixa para o pagamento
antecipado dos fretes. Foi então que as empresas buscaram mais
investidores.
Uma dessas empresas é a AC&K Berna, de São José dos Campos, que
pertence à família do ex-goleiro do Fluminense Ricardo Berna, hoje no
rebaixado Náutico.
Os contratos entre as empresas e os investidores eram do tipo SCP
(Sociedade em Conta de Participação), considerados pouco seguros, mas
assinados entre a AC&K Berna, parentes e amigos.
A AC&K Berna tinha como sócia a empresa de comércio exterior MC
Camargo, de Campinas, responsável pela parte operacional e pelos
contatos com as indústrias.
No fim de 2012, já com mais de uma centena de investidores, as duas
empresas de logística chegaram a ter cerca de R$ 100 milhões em caixa.
Foi então que, no primeiro semestre deste ano, o negócio ruiu: a
AC&K parou de captar recursos com outros atletas, acabou o lucro e
os investidores não receberam o dinheiro de volta.
NA JUSTIÇA
Hoje as empresas travam uma disputa na Justiça. A AC&K Berna, que
diz ser vítima da MC Camargo, cobra da ex-sócia R$ 35 milhões para
ressarcir 143 investidores.
À Justiça, a AC&K disse suspeitar que parte dos fretes,
operacionalizados pela outra empresa, nunca tenha existido. Nesse caso,
os lucros até então repartidos teriam vindo do dinheiro dos novos
investidores, o que caracterizaria uma pirâmide.
Editoria de arte/Folhapress |
No caso dos nadadores, o plano era investir num grupo de elite de
atletas para treinar para a Olimpíada de 2016 em um centro a ser
construído em São José dos Campos.
O grupo contratou membros da comissão técnica da seleção para o projeto.
Há reclamações de investidores no site Reclame Aqui. Procurados,
Molina, Cielo e Thiago não comentam o caso. As empresas não falam do
processo, que corre em sigilo na 7ª Vara Cível de Campinas.
OUTRO LADO
O advogado da MC Camargo, Cristiano Bovolon, disse que o processo no
qual a empresa é cobrada está em segredo de Justiça e que, por isso, não
comentará o caso.
Bovolon disse ainda que, se a reportagem fosse publicada, "adotaria as
medidas judiciais cabíveis contra as pessoas que forneceram informações"
sobre o processo.
O advogado Paulo Leme, que representa a AC&K Berna no processo
contra a ex-sócia MC Camargo, disse que não poderia comentar o caso em
detalhes, mas afirmou que a firma "se sente tão prejudicada quanto os
investidores" que perderam dinheiro.
Questionado sobre a suspeita de que parte das operações de transporte
nunca tenha ocorrido, Leme afirmou: "A suspeita de que foi uma pirâmide
financeira existe".
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