O PRIMEIRO CLÁSSICO
DATA: 26 de maio de 1985
CENÁRIO: Estádio Benedito Bezerra Lins, em Jardim de Piranhas/RN
PROTAGONISTAS: Real Sociedade Independente e CAP
Era
chegada a hora. CAP e Independente, enfim, frente a frente, abrindo o
Campeonato do Interior do RN. Após dois anos de ferrenha rivalidade,
surgia a oportunidade de se provar, de uma vez por todas, quem tinha o
melhor time, qual era a maior torcida. As duas equipes, até então,
cultuavam o hábito de fazer apenas amistosos contra equipes de cidades
vizinhas. À proporção que batiam esses adversários, CAP e Independente
iam construindo a fama de times imbatíveis entre os desportistas da
região.
Se
CAP e Independente não se enfrentavam, não era por falta de propostas.
Convites foram feitos ora por um, ora por outro, mas sempre surgiam
problemas de última hora que impediam o acerto final. O local do jogo, a
questão financeira, o momento – bom ou mau – pelo qual os times
passavam, o menor empecilho servia de pretexto para se adiar o que
todos, no íntimo, temiam, porém aguardavam com ansiedade.
Em 1985, os dois resolveram participar do popular Matutão,
uma espécie de Segunda Divisão do futebol norte-riograndense. Nessa
competição, as equipes eram agrupadas segundo a proximidade geográfica,
critério que certamente reuniria os arqui-rivais numa mesma chave,
obrigando-os a se enfrentar duas vezes, no mínimo. E não deu outra.
Como ambos
não queriam entrar para a História na condição de perdedor número um,
CAP e Independente correram atrás de reforços. O primeiro montou a base
de seu time com jogadores de Janduís e o segundo, com jogadores de
Caicó. Na semana do clássico, as duas equipes se prepararam com esmero.
Até Reinaldo, campeão do mundo com Flamengo em 1981, esteve em Jardim
assistindo ao treino de apronto do CAP. Palestras, concentração, nenhum
detalhe passou despercebido.
Mas o jogo não mexia apenas com os jardinenses. O próprio jornal Diário de Natal, um dos organizadores do Matutão,
promoveu a partida, prevendo que nela seriam batidos recordes de renda e
público, o que acabou acontecendo de fato. O campo começou a lotar ao
meio-dia, três horas antes do início do clássico. De Caicó, vieram um
ônibus lotado de curiosos e as equipes esportivas de duas emissoras de
rádio – a Rural e A Voz do Seridó – para cobrir o evento.
Tudo pronto,
o árbitro caicoense José Bezerra deu início à partida. O Independente
começou no ataque, mas o CAP logo equilibrou o jogo e passou a
dominá-lo, forçando as jogadas com Alcione, pela direita, e com Concone,
pelo meio. O Real sentiu a pressão e começou a errar muitos passes. O
CAP (que jogou com Francimar, Casinho, Paulo, Lobão e Lázio; Bené,
Totonho e Concone; Virino – depois Albino – e Dedé – depois Cândido),
porém, não soube aproveitar o nervosismo do rival e o primeiro tempo
terminou como começou.
Na etapa
final, o panorama foi bem diferente. O CAP veio mais cauteloso e o
Independente, mais agressivo, uma vez que jogava em seu estádio. A
impressão de todas as 2.505 pessoas que pagaram para ver o jogo era de
que o placar mudaria a qualquer momento, pois quando não era o Real que
atacava, era o tricolor que levava perigo à meta adversária.
Aos
30 minutos, finalmente, saiu o gol: a defesa do Independente rebateu
uma bola: De Carola tentou dominar, mas não conseguiu; Concone tomou-lhe
a bola, entrou na área e tocou na saída do goleiro Nego Chico. A
torcida tricolor explodiu de alegria. A partir daí, o Independente
tentou de todas as formas empatar a partida. A torcida concriz quase
comemorou, já nos descontos, quando Pelezinho cabeceou uma bola que
passou rente ao travessão de Francimar. Mas foi só. O CAP conseguiu
suportar a pressão e o desespero do Real até o apito final.
A torcida
tricolor não coube em si de tanta alegria. À torcida do Independente,
restava o consolo de tentar devolver a derrota no clássico seguinte.
Mesmo que conseguisse, todavia, jamais mudaria o fato de que coubera ao
Clube Atlético Piranhas a primeira vitória. E, tal qual o primeiro
beijo, esta jamais será esquecida.
(Fonte: blog de Alcimar)
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